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terça-feira, 18 de outubro de 2011

SANGUE NEGRO EXPÕE O LADRO NEGRO DOS NEGÓCIOS E DA ALMA

      São raros os filmes que conseguem unir arte e qualidade técnica sem perder o potencial de público. Sangue Negro (There Will Be Blood/EUA/09), de Paul Thomas Anderson, narra uma metáfora capitalista que envolve a igreja e as estruturas que formam o sistema econômico capitalista, ilustrada na figura de Daniel Plainview, um caçador de petróleo sem limites, que ergue seu império nos EUA de 1900 a custa de muitas vidas destruídas, inclusive a sua própria.
      Daniel é um homem frio e disposto a tudo para alcançar seu objetivo: extrair a maior quantidade possível de “ouro negro” em uma época pioneira. Portanto explora famílias, engana seus adversários e não se compadece nem quando seus empregados perdem a vida nas torres de perfuração.
      Seu lado mais negro fica exposto em uma cena de confronto com o jovem e fanático pastor Eli Sunday (Paul Dano), que cobra uma dívida pelas terras de sua família, sendo ele próprio a personificacão religiosa da ganância, e usa da fé para justificar sua distância do homem que ataca, para tentar esconder que são idênticos nos valores que cultivam.
      Essas vidas antagônicas, porém cúmplices na ambição, vão ilustrar a trajetória moral que transformaram os Estados Unidos na potência que são hoje. O trabalho marcante do consagrado diretor de Boogie Nights e Magnólia, teve boa parte dos resultados favoráveis graças a atuação de Daniel Day-Lewis. Conta-se que o ator passou a viver como o personagem, com seus maneirismos de falar e agir, e também nas atitudes no set como um homem cruel. Sua atuação é muito marcante, quase enlouquecida e mesmo encorporando alguém que emana repulsa, pelo motivo do ator ser alguém competente, toda antipatia que venha a ser experimentada,  isto pode se transformar em fascínio diante de uma personalidade que representa os aspectos mais negros dos seres humanos, e  que talvez ninguém escapa de se identificar.
      Ganhou o Oscar de ator e fotografia e é dedicado a Robert Altman, mestre do diretor. Paul Dano, que vive o pastor, ganhou notoriedade como o irmão caladão de Pequena Miss Sunshine. Se situa entre os grandes intérpretes desta nova geração, sendo a afirmação provada por, objetivamente,  não ter ficado apagado, ao contrário, diante de um monstro como Day-Lewis.


      Esta pérola do cinema tem o compromisso de refrescar o raciocínio sobre o modo de vida contemporâneo e modelo de pensamento vigente, mas sem desmerecer o entretenimento. Não que seja divertida, na vida real, a consciência de que muitos empresários ainda tenham valores similares ao do personagem central, o que é muito triste.