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sábado, 16 de julho de 2011

HOJE É SÁBADO

Vou postar este poema, porque hoje é sábado; lembrei dele apenas, porque hoje é sábado; e do Vinicius mais ainda, porque hoje é sábado; estou na prosta do descanso, porque hoje é sábado; e do pesar me desencanto, porque hoje é sábado; depois de amanhã retomarei, porque hoje é sábado; nem me replica o que direi, porque hoje é sábado; estou na cruz da minha íntima, porque hoje é sábado; e amanhã na minha lida, porque hoje é sábado; e tem as horas que consome, porque hoje é sábado; depois as horas quem me clame, porque hoje é sábado; é o ébrio que se veste, porque hoje é sábado; o diurno que além tece, porque hoje é sábado.


E postarei a poesia, porque hoje é sábado, esta matéria que me guia, porque hoje...é sábado:



O DIA DA CRIAÇÃO

Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.


Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.

Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.

Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há uma comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado


Vinicius de Moraes


PS: Mensagem para o além:

Saudade Vinicius, desejo que esteja tão espírito aí quanto foi aqui. E divirta tantos desiludidos saudáveis quanto fez aqui. Tão baixo como foi e alto como disse.

domingo, 10 de julho de 2011

TARANTINO EM PLENA FORMA

Louco e genial Quentin Tarantino
                Logo após estrear um filme de Quentin Tarantino, imediatamente já se espera pelo próximo. É assim que acontece com alguns diretores e outros operários do cinema. Desde que o profissional seja digno de ser notado e capaz de unir crítica e público, o que é cada vez mais raro. O curioso é que Tarantino já foi acusado de ver esgotado seu arsenal de ideias e talento, e o destrato nem foi de toda maldade considerando que o cineasta ficou anos sem filmar ou anunciar um projeto. O silêncio foi interrompido por Kill Bill, espetáculo de vingança que faz referência aos filmes chineses de artes marciais dos anos 70, onde o diretor deixou claro que estava em forma artística e capaz de sustentar a fama de prodígio que conquistou com seu mega famoso Pulp Fiction.
               Bastardos Inglórios (Inglorious Bastards/EUA/09) é sua alegoria sobre como seria o assassinato de Adolf Hitler. Tudo começa com a visita aterrorizante do coronel Hans Landa (Christoph Waltz) – um oficial nazista - à fazenda de uma família que esconde um grupo de judeus. Descoberto o esconderijo todos são assassinados, à exceção de Shoshanna (Melanie Laurent), que escapa da chacina e que no futuro planeja o massacre do alto comando do III Reich. Aldo Raine (Brad Pitt) é um caipira americano que adora escalpelar as vítimas do grupo de extermínio que lidera, os Bastardos Inglórios, e que está em missão para também acabar com a vida de Hitler e seus aliados.
Paus e ferros verbal ou não em qualquer imagem
               Nesta trama, a princípio simples, a marca do diretor entra em cena com diálogos para lá de interessantes e teorias de cinema e outros ícones da cultura pop, tendo como pano de fundo o fato de todos os personagens estarem escondendo algo: Shoshanna se esquiva de um militar nazista apaixonado à medida que precisa da influência dele para por em prática seu plano; a estrela badalada Bridget von Hammersmark (Diane Krüger) precisa manter o equilíbrio quase insustentável em um bar onde judeus disfarçados e militares alemães se encontram, sendo ela mesma uma agente dupla; Landa é muito mais curioso pois mostra uma elegância quase convincente que é derrubada na primeira e única oportunidade que tem de salvação. O único que nada dissimula é o próprio Raine, um psicopata de mentalidade quase juvenil obcecado por sua fundamentada – levando em conta o contexto do seu meio de vida - obra-prima.
          Mesclando referências a filmes e artistas, o diretor faz uma homenagem a sua formação cultural bem ao estilo violento e humorado que rezam a marca de seus trabalhos. Bastardos Inglórios recebeu 8 indicações ao Oscar e foi saudado como o mais cerebral capítulo de sua carreira. Resta ao público esperar por seu próximo projeto. E que venham muitos. Por caridade.


domingo, 3 de julho de 2011

CINEMA EM DUAS DIMENSÕES

Dennis Hopper e Peter Fonda no genial Sem Destino
             O cinema está em crise faz três décadas. Suas salas estão cada vez mais vazias (guardadas as proporções populacionais) e seus filmes, à exceção de alguns, estão tolos e pouco transformadores. Também no fim dos anos 50 ele estava em baixa, ninguém se interessava mais por seus produtos que, de maneira geral, exaltavam a utopia norte-americana. Era a primeira vez que o ramo sofria uma crise tão drástica, muito ocasionada por uma lei que inviabilizou o sistema de estúdio e pela carência de histórias que falassem a língua da sociedade rock n´roll que estava se formando.
             Eis que surge uma geração de cineastas que viriam a estabelecer um novo padrão de arte cinematográfica, mesmo sendo eles figuras mal vistas e controvertidas, representantes de tudo aquilo que o american way desprezava, porém que se tornaram responsáveis por trazer as pessoas novamente às salas e criaram uma linguagem que produz frutos até os dias de hoje: Sem Destino, Bonnie e Clyde, Mash, O Poderoso Chefão, Táxi Driver, Corações e Mentes são alguns exemplos.
            O cinema, fora seu próprio nascimento, passou por três inovações técnicas fundamentais: o som, em 1927 com o filme O Cantor              de Jazz, a cor, em 1939 com E o Vento Levou, e o 3D, em nossos tempos com Avatar.
        Este último conta a história já bastante conhecida de Pandora, uma lua em um sistema solar distante, habitada pelos Na´Vi, humanóides gigantes e azuis, que compartilham uma ligação de respeito e auto-sustento com a exuberante natureza local. O ano é 2154 e os colonizadores humanos têm a ganância por um precioso minério que Pandora possui em grande escala. Como soa familiar, para botar as mãos neste precioso bem, os vilões humanos precisam dominar os habitantes locais e destruir o meio ambiente.
           Jake é um humano tetraplégico que através de uma tecnologia tem seus pensamentos e personalidade transferidos para o corpo de um Na´vi, e sob posse deste e livre no planeta, não demora para mudar de lado e lutar à favor daqueles que deveriam ser seus adversários, desencadeando uma guerra entre as espécies.
Cameron: alta técnica, baixa profundidade
             O 3D cumpre de forma excepcional o objetivo de transportar as pessoas para dentro da história, de levá-las a mergulhar na vida dos personagens e em seu mundo, que apesar de fictício tem formas absurdamente reais. E tal tecnologia faz isso brincando com os sentidos, obrigando o público, por exemplo, a virar o rosto para o lado da Sigourney Weaver quando ela fala, como se estivesse ao vivo, e ao desviar de tiros e de animais alados, como se eles fossem acertá-lo em cheio.

           Recebeu alguns Oscar, mas não os principais, mas prêmios pouco importam quando um filme atinge os feitos de Avatar, sendo ele o responsável, inclusive,  por tirar o cinema da crise a qual se encontrava há três décadas. E também não é um crime prever que daqui a pouco, quando o 3D não for mais novidade, o público poderá evadir das salas novamente, até que surja uma nova tecnologia que o faça voltar. ortanto seria bem mais prudente e bastante bem vinda uma nova onda de artistas, mesmo que mal vistos e controvertidos que se responsabilizassem por trazer um novo padrão de arte no cinema, e que falassem a língua da geração tecnológica.