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sexta-feira, 1 de abril de 2011

ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA


     Em Hollywood reza a seguinte lenda: para ganhar um Oscar interprete algum papel que espelhe as indignações e manias da sociedade politicamente correta. Por exemplo: se for bonita, se apresente como feia (Charlize Theron em Monster, Elizabeth Taylor em Quem tem Medo de Virginia Woolf?); viva alguém com alguma síndrome (Tom Hanks em Forrest Gump, Dustin Hoffman em Rain Man, Russel Crowe em Uma Mente Brilhante); esteja no fim da carreira e da vida (Katharine Hepburn e Henry Fonda, ambos em Num Lago Dourado, Jessica Tandy em Conduzindo Miss Daisy); faça um gay (Tom Hanks por Filadelfia, Willian Hurt em O Beijo da Mulher Aranha, Hillary Swank em Meninos Não Choram). Se nada idsso der certo, então interprete uma vítima ou personagem contundente do Holocausto (Roberto Begnini em A Vida é Bela, Adrien Brody por O Pianista). 
       Desta lista, apenas o último item nos interessa para justificar o primeiro Oscar ganho por Kate Winslet, não que ela não mereça, mas veio após ter sido indicada 5 vezes por papéis infinitamente maiores do que este.  Em O Leitor (The Reader/Ale/EUA/2008)  a atriz vive Hanna Schmitz, uma mulher fechadona por volta dos 35 anos que ajuda por acaso um adolescente que passou mal nas ruas de Berlim. Michael, o garoto, vai direto para a cama de Hanna e  para eles não há nenhum problema com a diferença de idade ou por não saberem muito um do outro. Mesmo com o caso se arrastando por meses o que importa é o sexo (ou o primeiro amor para o menino) e os livros que ele lê para ela a cada dia que se veem. Isso até a moça desaparecer subitamente.
    Os anos passam e Michael, já na faculdade, está a caminho de uma audiência que será discutida em aula, lá ele reencontra Hanna e temos a revelação de quem ela foi e - graças a Deus - a imaginação para supor as razões para as decisões que tomou.
    O diretor Stephen Daldry dirigiu As Horas e aqui repete a habilidade em lidar com temas complexos com fluência narrativa e delicadeza, mesmo que não ofereça retorno convincente para o que se propôs a discutir. Na verdade o filme, ou livro originalmente, resumiu praticamente toda a ação nazista em uma única teoria: os seres humanos seguem as leis, não a moral. Seguindo esta defesa de que leis e pessoas, de uma maneira geral, são simplórias e ao estender isso à Hanna, dá para supor que seu destino foi definido por um miserável abraço, aquele que Michael negou a ela.
      A personagem rendeu Oscar, Globo de Ouro e homenagens à sua protagonista. E tudo por que, além da competência e ao contrário da beleza da atriz, Hanna é feia, velha, tem a boca branca, cabelos desgrenhados e viveu a II Guerra.




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