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segunda-feira, 6 de junho de 2011

ANTI-HERÓI AMERICANO

               Clint Eastwood é o ator ícone do que se conhece por anti-herói, um tipo não muito moral e ortodoxo nos métodos de aplicação da justiça - à começar que costuma os fazer com as próprias mãos - mas que possui um senso emocional positivo, mesmo que no decorrer do caminho extraia litros de sangue de seus desafetos.
              Revelado para o mundo nos westerns spaghettis de Sergio Leone, passando pelo nome policial mais durão entre os durões, o imortal Dirty Harry, o polivalente Clint  viu sua carreira ascender em uma sobriedade artística assombrosa após assumir a direção e produção de seus trabalhos, que resultou em obras de alto nível, e que arrasta sua câmera pela arestas culturais, sociais e políticas dos EUA: Bird, Os Imperdoáveis, As Pontes de Madison, Sobre Meninos e Lobos, Menina de Ouro, Cartas de Iwo Jima.
            Em Gran Torino (EUA/2008), além de dirigir e produzir, interpreta Walt Kowalski, um racista veterano da Guerra da Coreia cuja esposa acaba de falecer e que se encontra diante da solidão envolto ao lugar aonde mora, tomado por gangues de coreanos, mexicanos, negros e pessoas de todas as minorias excluídas.
           O velho inicialmente repugna, mas vai cedendo aos poucos à sua nova companhia, na medida em que também passa a se envolver com seus problemas e da  violenta vizinhança estrangeira.
          O Walt Kowalski que no passado tirou a vida dos coreanos passa a querer salvá-los, em uma espécie expiação de seus pecados, sua redenção inconsciente. O mais irônico é que ele está defendendo seus vizinhos dos próprios compatriotas estrangeiros em um caldeirão aonde negros rivalizam com mexicanos, que odeiam os coreanos, que não respeitam os yankees, em um ciclo vicioso muito bem representado pela cena da discussão inicial entre duas gangues dentro dos carros: eles estão em posições opostas, mas seguindo para a mesma direção. O personagem de               Clint simboliza o american way life, o modo de vida americano que outrora foi vigoroso e convicto de seus ideais, está ultrapassado, doente e arrependido, mas que tenta, sob forte desconfiança, provar suas boas intenções. E todos aqueles que sofreram o peso da democracia americana, feita através das mãos de homens como Walt, também causaram seu processo de declínio, pois agoram reagem estampando seus rostos nas fichas policiais e somando números às estatísticas de violência.
        Ele queria dizer que não é a morte mas a vida que é agridoce.




Um comentário:

  1. Eita velho ranzinza em Gran Torino. Entretanto, torci por ele o filme todo...rsrs...

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